sábado, 7 de abril de 2007

Pense nisso...

por: LUÍS CARLOS DE MENEZESA

violência e os jovens que não estão na escolaFala-se muito em diminuir a maioridade penal, mas a verdadeira questãoque se coloca para o país é aumentar a "maioridade educacional"Crimes brutais envolvendo jovens, sua repercussão na mídia e asdiscussões no Congresso mostram, há semanas, nossa sociedade sepreparando para se proteger de seus Jovens, não para protegê-los.Aceita-se com naturalidade um mundo em que criança não é esperança, éproblema. Se parece exagero, conto três episódios que vivi recentemente:• Terça-feira, 13 horas, restaurante universitário. Um colega diz "Nãoimporta a idade. Envolveu-se em crime? Cadeia!" Outro responde: "Vaise aperfeiçoar no crime, nas cadeias que temos..." O primeiro replica:"Será mais negócio mandar pras escolas que temos?" Afasto-me. Secadeia e escola não são "negócio", nessa conversa entre académicosalguém pode chegar a propor a pena capital...• Quinta-feira, 16 horas, rua de comércio. Dormindo na calçada, ummenino "atrapalhando o tráfego". Tento falar com ele e alguém meadverte: "Não perca tempo. Ele tá chapadão de crack!" Pergunto:"Um policial não poderia levá-lo a um hospital?" O comerciante responde:"Passou um agorinha e nem ligou. Tem dúzias deles largados assim aqui,no centro". Sigo em frente, buscando conserto para um velho computador...• Sexta-feira, 18h30, semáforo. Só vejo as mãos dela, vendendo balas.A cabeça não alcança o vidro do carro. Lembro da notícia do bebêabandonado, mas penso que, se a criança já sabe andar na ma, isso nãonos choca nem é notícia. Abre o sinal e sigo. Pelo retrovisor, vejo amenina driblando os automóveis...Bertolt Brecht, em seu teatro pedagógico, propõe que não nosemocionemos, mas pensemos. Só que aqui nem é teatro. Sou eu, cúmplicedessa cidade que abandona suas crias. O Brasil não é só isso, e sei demuitos lugaresque nem fazem idéia do inferno das metrópoles, mas as notíciasenvolvem todos e discutir as soluções também. Discutamos, pois.No debate sobre se é mais barato prevenir ou remediar, ouve-se quecada presidiário custa por mês mais do que dez alunos na escola e quecada menor infrator confinado custa mais do que 20 crianças na escola.E se cadeia não adianta e preso é tão caro, há quem diga que pena demorte barateia... Não é preciso ser jurista para se chocar. Todossabemos que preso é responsabilidade do Estado, a qualquer custo. Mascriança na escola não é responsabilidade do Estado? E a que custo? Umdécimo do que gastamos com os presos e um vigésimo do que custa uminfrator?Há milhões de jovens sem trabalho, escola e vida social decentes -entre eles, milhares de crianças de rua e outras tantas viciadas,prostituídas ou envolvidas com a contravenção e o crime. Cuidar dessesúltimos é essencial, mas sem solução para os demais equivale a enxugargelo... Como é impossível arranjar de repente ocupação para milhões(ainda mais milhões que não completaram a escola básica), mais urgentedo que discutir a maioridade penal é aumentar a maioridadeeducacional, com formação geral ou profissional mais vida cultural,música, esportes etc.Porém quem cuidará disso? Assim como para evitar crimes as leis sãoimportantes, mas não bastam, é preciso olhar cada criança comoresponsabilidade nossa e "desnaturalizar" a miséria. Se no lugar domenino largado na rua estivesse eu caído, com óculos e computadorportátil, em minutos seria socorrido. Mas um menino drogado, descalço,traz menos riscos dormindo no chão do que em pé... Como aconselha Brecht, não é para se emocionar, é parapensar.

LUÍS CARLOS DE MENEZES (pensenisscKSabril. com.br) é físico e educador da Universidade de São Paulo e sabe que não se resolve a violência sócom Educação, mas que sem Educação não se resolve nada.

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