terça-feira, 10 de julho de 2007

Minha Face?!


Por Fran de Lima!
Começo a caminhar,mas não reconheço o lugar. Tudo é muito escuro, o solo, é como casca de ovo ,seco e quebradiço, e tem uma cor vermelha como a do barro do nordeste. O céu morbidamente parado, tem a mesma cor. Não vejo plantas, nem animais. Tenho que cobrir minha boca e meu nariz, com minha blusa, p/ não respirar a poeira cinza que vem de todos os lados. Vejo placas gigantes, que passam bem no meio da Terra,como grandes parabólicas, elas filtram o sol,só tem claridade onde estão as placas, o restante é todo escuro,e como muitas coisas pelo caminho. Como panelas,pratos,objetos pessoais,retratos,malas vazias,brinquedos,dando algum sinal, de que ali,existira uma civilização. Mas qual? O que aconteceu? Para onde foram todos?Começo a gritar,minha garganta fica seca com a poeira que agora corre até no meu sangue. Sem voz,começo a procurar,mas o escuro é imenso, existem muitos morros e é muito difícil caminhar. Continuo a procurar,na esperança de que alguém me dê uma resposta. Me explique o porque . Depois de caminhar muitas horas ou dias, pois a noção de tempo que conheço, já não existe mais. Vejo ao longe, no alto de um dos morros, algo que me parece uma pessoa. Corra em desespero, para alcançá-la. O ar me falta, tento respirar,o ar é quente como vapor de panela. Não vejo água em nenhum lugar, nem uma única árvore, para que eu possa encostar. Com muita dificuldade, continuo,em direção daquela pessoa. Ao ponto em que vou me aproximando,percebo ser uma mulher. Muito machucada,com roupas rasgadas,cabelo no rosto e uma incrível angustia. Ela olha-se,desesperada,como se procurando respostas. Seu desespero aumenta, a medida em que eu me aproximo. Sinto um peso enorme em cada passo. Não consigo entender, o pq ,meu peito está tão apertado, ao ponto em que vou chegando mais perto. Mais mesmo assim,continuo a caminhar. O céu parece baixar a cada passso, o chão, fica cada vez mais seco,como minha garganta. De repente ouço um grito horrível,desesperador. Vem da mulher. Começo correr em direção a ela, no desespero de ajudá-la. E quando me aproximo,e a toco.Sinto o céu parar,o chão tremer,e o ar me faltar aos pulmões. Toco-a nas costas,e como que por um impulso,caio de joelhos a seu lado. Com minhas mãos,num leve toque,começo a levantar seus cabelos,endurecidos pela poeira. Ela reluta,meu coração dispara. Mas eu continuo,preciso ver,quem é esse ser,e pq ele sofre tanto. Aos poucos,sua face vai sendo revelada,e o que vejo, é assustador e me tira o ar totalmente. O que vejo,é minha face,em pânico. Vejo na janela dos meus olhos,dor,fracasso,angustia e arrependimento. Caímos as duas,uma ao lado da outra,sem conseguir respirar. O céu começa a baixar,o chão começa a esquentar,e não conseguimos encontrar nenhuma saída. Fico ali,imóvel,com toda a culpa.Sem ter,nem a esperança,nem mais uma chance...

sábado, 7 de julho de 2007

CONTRATO DE MORTE

Por: Wesley Vieira
A Terra é protegida por escudo danificado
Um poço às avessas foi colocado no céu
Não caímos no poço
Ele cai em nós despejando sua escuridão
Evidenciando a complicação do homem
E sua briga com tudo o que é natural
Furo na camada protetora dos raios violentos
Irresponsabilidade? Sim.
Irreversível? Talvez.
As ações mostram a preocupação
E nós não estamos tão preocupados
Fábricas são os titãs, líderes da destruição
Fumaça é seu grito e dinheiro é a ordem
Pequenos homens fazem lucro
Enquanto muitos trabalham
Injustiça em cima e debaixo dos nossos olhos
O poço é a ignorância
E a ignorância é a prioridade do capital e seus senhores
Num mundo como o nosso limitaríamos o lucro?
A cabeça de metal e concreto é colocada em julgamento
E se torna tão primitiva o que parecia moderna
Somos incapazes de sentir a culpa?
O que parece obra de deus ou diabo
É obra do homem em seu próprio apocalipse
Palavras apenas
Ignoradas pelos alienados reis e súditos
A Terra esquenta
Geleiras fabricam os mares que engolem terras
Desesperos brotam da própria pele
A imagem cega os olhos
Nosso futuro é banal?
Somos homicidas e suicidas
Mataremos a casa e a família
Esse é o caos que insistimos em não sentir
Bomba que nasceu em cada um
Semeada pelos titãs que governam
Carrascos vestidos de homens
Tiro o capuz
Assino o papel e mato o irmão
O dinheiro não compra a vida humana
Mas pode fazer seu contrato de morte.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

A nova Era

por Peterson Xavier
A época indefinível, a contagem dos anos já não é feita, o calor é insuportável. Relâmpagos de um sombrio néon, rasgam um vermelho manchado de chumbo onde antes existia aquilo que chamávamos de céu. Um solo acinzentado se estende abaixo dos pés. Rostos brancos de seres indefiníveis, aparecem por vezes nas fendas que existem no terreno, percebe-se que estas criaturas são jovens, em sua maioria são crianças, filhotes. Filhotes brancos de uma raça clara, de peles quase transparentes possibilitando a visão de veias, artérias e em alguns pontos a circulação de um sangue escuro.
Olhos embaçados de um cinza brancacento, miram o horizonte que parece não ter fim. A língua falada foi extinta, a forma de comunicação é a dos grunhidos, dos gestos. Restos de uma civilização indicam que aquele lugar sofrera uma mudança, uma cruel e arrebatadora mudança.
Houve uma guerra! Não entre os povos, não ideológicas, nem quente nem fria, mas uma guerra violenta que perdurou durante tempos, uma guerra suja, ácida, cruel e mesquinha, como qualquer uma, mas essa guerra fez mais vitimas do que as outras, dizimou floras e faunas, continentes inteiros foram engolidos, milhares morreram, e quase tudo foi destruído.
O que restou foi um planeta doente e que arde em febre, 50, 60, 90 graus. Oceanos ácidos onde a vida já não existe, cercam as poucas ilhas secas e cinzas que teimam em permanecer, pouca terra onde um tratado internacional foi ignorado há tempos atrás, onde os seus habitantes mais evoluídos viveram como bactérias e infeccionaram o lugar onde antes havia vida. Criaram um hematoma, um coagulo, um câncer. e nessa nova era o que sobrou foi esse mundo enfermo que já não tem mais nome, onde tudo é sombrio e vazio e terrível.

SERIA JUSTO CULPARMOS QUEM?

por Marcely Ancelme
O que está havendo com o mundo? O céu vermelho como uma enorme bola de fogo quase nos tirando todo ar, pessoas procuando respostas, mas quem as dará? Respostas, não tenho. Sinto as consequências de uma evolução que faz sua própria regressão. Será que seriamos melhores? Será que iriamos dividir o fogo? Não sei, com tanto egoismo, tanto descaso, seriamos capazes de nos preocuparmos com o próximo? Talvez, nem mesmo com o próximo dia... O buraco cresce, e ninguém se dá conta, não acreditam no que vêem. Os animais não resistem, as plantas murchas ou mortas nem com um toque de mágica cresceriam novamente. Até onde a humanidade vai aguentar? Gostaria se ser uma alma que com toda sabedoria, pudesse evoluir a todo instante. Não quero mais ver aquele olhar que me sufoca, que me leva a pensar que a qualquer momento seremos engolidos pelos efeitos do pouco caso. Faço um pedido de socorro. Mas, sozinha? Sou só mais um gão de areia nessa imensa e infinita dimensão. Eu vou gritar, não posso esperar por um sofrimento lento e injusto, quero parar o tempo, fazer o mundo acreditar.
Queria subir até as estrelas para entender como é que se faz para entender o que a dor dos meus olhos conseguem ver.

Memórias de um cego

Por ANTONIO MARCOS

Meus olhos pouco acreditam
Na imagem dura e crua
Que poucos lacrimejam
Em um espaço vazio e escuro
Como num ensaio de cegueira
Aquela cidade pequena...
De igreja e praça bonita
Vazia e desolada
Não está ilustrada
Um velho antigo
Toma conta de minhas lembranças
Bares e comércios de portas escancaradas e batidas
Onde foi para o bosque,
E a pequena floresta?
Que fazia o cenário da minha sombria cidade...
Pessoas...
Por que as vejo saindo do nada?
Como fantasmas
Os olhos foram poupados,
Menos o olhar confuso e culpante
Acerta-me como um vulto
Dilacera minha memória
E traz aos meus sentidos
Medo e confusão...
Será que não sou eu quem criou esses fantasmas?
E fantasmas tem rugas e manchas?
Já não vendem mais o filtro solar
O envelhecimento vem da alma
Que aderba ausência do sol
O meu balançar já não conta com a ajuda das árvores
A água tão desejada é bem vista nas lágrimas do arrependimento
De que tempo eu fiz parte?
Em que tempo eu vim ou quanto o perdi?
Pra sentir na pele o buraco dessa camada, que não mais me completa
Tudo vem na minha mente
Como acusação
Repudiei a ajuda
Entrei no mesmo barco
E em que águas viajar?
Se já não conto com o vento e nem com a paisagem...
Abalar o meu sufoco
Gritar a minha dor
Remediada e sem rumo
Me apego a imaginação
Voltar ao tempo e sentir as sensações que a natureza me dava
O ar não é o mesmo
As flores me cobrem de vergonha
O céu me nega as estrelas e expressa sua mágoa e fúria
Num vermelho intenso, como jorrar sangue, perder-se em vidas...
Sinto nojo de mim mesmo
Sem água para me lavar ou lavar a boca
Com o que tive não me contive
Acelerei minha facilidade
Anestesiei a natureza
Com as conseqüências
O que tenho não me orgulho e não é o suficiente para viver.